Devido aos rumos ambientais que o Planeta Terra tem tomado, os países têm se organizado de forma a reduzir impactos e tentar minimizar ou zerar os prejuízos já causados.
Dentro deste contexto, indústrias, empresas e mesmo nações se movimentam no sentido de trabalhar com a perspectiva de uma economia mais sustentável ambientalmente. Por meio da captação de recursos, elas realizam aportes financeiros em projetos de cunho sócio-ambiental, atrelando lucros aos investimentos ligados a interesses e objetivos pessoais do investidor.
Mas, do ponto de vista financeiro, de que forma isso é possível?
Economias verde e azul já são realidades
A economia verde já é velha conhecida das empresas, estando em funcionamento há aproximadamente uma década. Ela se refere às medidas ambientais de preservação do meio ambiente, com destaque à neutralização de emissões de carbono e utilização de fontes de energia renováveis, entre uma série de outros protocolos.
Estando alinhadas com o checklist, as empresas emitem os chamados green bonds, forma de captar recursos para investimentos verdes de suas corporações. Devido ao sucesso e receptividade do mercado, atualmente os green bonds captam mais de US$ de 350 bilhões nos Estados Unidos, por ano.
A economia azul, por sua vez, começa a ganhar a atenção do mundo, com projetos já em execução. Elas dão margem para a emissão de blue bonds, que são títulos de dívida com foco na preservação dos oceanos e rios, ligados a financiamento de projetos por parte dos investidores. Com isso, além do resultado ambientalmente mais interessante, haveria, ainda, o desenvolvimento das atividades marítimas atreladas ao uso sustentável dos recursos oceânicos.
Seychelles saiu na frente e foi quem primeiro ofereceu um blue bond no mundo. Apoiada pelo Banco Mundial, a emissão levantou cerca de US$ 15 milhões, aportados pela Nuveen, U.S. Headquartered Prudential Financial Inc. e Calvert Impact Capital.
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O Banco da China também lançou blue bonds, no valor de US$ 942,5 milhões, para aplicação de recursos na aceleração da construção de parques eólicos offshore, produzindo economia limpa nos oceanos, e para instalação de redes para tratamento de águas residuais, entre outros projetos.
O papel da ONU
Uma das grandes impulsionadoras do movimento pela economia verde é a ONU, por meio da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP). Nela, líderes de várias nações se reúnem para traçar estratégias conjuntas e individuais de atuação em benefício comum. Com isso, muitas pesquisas surgem para verificar a distância entre as metas e a realidade das empresas no sentido de redução da emissão de carbono, emitindo relatórios de análise periodicamente.
O Acordo de Paris, realizado em 2015, reuniu governos que pactuaram realizar ações para reduzir emissões. O objetivo era que, até 2030, a temperatura da Terra não subisse mais que 1,3ºC na comparação com níveis pré-industriais. Entretanto, as emissões projetadas mostram que, se continuarmos no mesmo ritmo, a tendência é que haja aumento da temperatura mundial em 3ºC.
Uma pesquisa da MSCI Net Zero Tracker de 2021, que analisou 9 mil companhias ao redor do mundo, mostrou que 57% das companhias listadas da amostra não estão alinhadas nem com o Acordo de Paris nem com qualquer outra meta global de redução de emissões de gases de efeito estufa. Os resultados apontaram ainda que menos de 10% estão comprometidas com o Acordo de Paris.
A ONU elencou 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e, entre eles, estão a preservação e recuperação de áreas como pradarias marinhas, os manguezais e sapais. Esses locais se destacam por captar gás carbônico da atmosfera, sendo que as pradarias, por exemplo, fazem isso 35 vezes mais rápido que as florestas tropicais. Juntos, os habitats podem armazenar até mil toneladas de carbono por hectare, superando em muito a capacidade dos ecossistemas terrestres, conforme apontou o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Para garantir o bom funcionamento desses ambientes, cientistas se dedicam dia após dia à manutenção dos espaços. Essa atuação pode ser financiada pelo mercado financeiro e de capitais. Existe uma demanda e pressão dos investidores, que estão interessados nos desdobramentos do ESG dos ativos.
Títulos ESG geram resultados econômicos e socio-ambientais
ESG é a sigla que representa as palavras inglesas environmental, social and governance. Em português, Ambiental, Social e Governança. Trata-se de um parâmetro de avaliação de empresas, de acordo com suas ações e projetos.
O ESG considera alguns aspectos como emissões de gases, uso eficiente de recursos naturais, poluição, gestão de resíduos, apoio à diversidade e inclusão social, manutenção de conselho administrativo, cuidados com direitos de acionistas e práticas transparentes, por exemplo.
Nesse sentido, manter uma agenda pautada pelos requisitos valorizados pelo mercado é fundamental para o enquadramento ESG. A emergência climática tem acelerado esse movimento, que tende a ser cada vez mais rápido e uniforme no meio corporativo.
Investidores ESG encontram em empresas-verdes bons motivos para aplicar seus recursos. Entretanto, muitas ainda passam por adaptação para modelos mais sustentáveis, atendendo a todo protocolo exigido. Devido aos rumos que o Planeta tem tomado, a expectativa é que essa adaptação seja realizada em períodos mais breves, afinal, a natureza já não consegue mais esperar.
Apesar dos desafios relacionados ao combustível utilizado na indústria marítima, por exemplo, que não tem opções sustentáveis a preço acessível, e o fato de as iniciativas de carbono azul custarem mais caro, o presidente norte-americano Joe Biden prometeu lançar regras que tragam mais transparência para os investimentos com foco ESG. A União Europeia também já se manifestou no mesmo sentido.
A principal vantagem em emitir e investir em títulos ESG, sem dúvidas, está ligada à responsabilidade socioambiental, atrelando ganhos a um comportamento em benefício da coletividade. Na hora de escolher qual papel apoiar, assim como já ocorre em outras modalidades de investimento, é preciso pesquisar tanto sobre o emissor e seus índices de confiabilidade, quanto nos projetos, certificando-se de que eles realmente estão sendo executados como se espera.